Captação de Recursos para quem atua pela mobilidade a pé

Como Anda
6 min readOct 31, 2017
Foto: Como Anda

O Projeto Como Anda definiu para os anos de 2017 e 2018 a atuação em 3 frentes de trabalho principais:

  1. Fortalecimento da pauta da mobilidade a pé;
  2. Fortalecimento das organizações atuantes com o tema no Brasil; e
  3. Articulação da rede.

Sendo assim, realizamos no início de julho de 2017 a Oficina Como Anda sobre planejamento estratégico e captação de recursos com o objetivo de desenvolver atividades voltadas principalmente ao segundo eixo, focadas no fortalecimento das organizações. O conteúdo da atividade baseou-se nos resultados do relatório Como Anda de 2016, que identificou o planejamento estratégico e captação de recursos como sendo aspectos relevantes a serem trabalhados com as organizações que atuam pela mobilidade a pé no Brasil.

O conteúdo relacionado à captação de recursos foi facilitado por Felipe Mello, diretor-fundador da ONG Canto Cidadão, que há 16 anos também vem buscando e pensando meios de como financiar as iniciativas sociais que realiza.

“Na oficina, a ideia de apresentar diferentes formas de captação de recursos levou em consideração a heterogeneidade dos projetos lá representados. Desde iniciativas vinculadas a instituições de ensino governamentais até atividades em estágio inicial de organização. Mesmo com perfis tão diferentes, no entanto, algumas intersecções podem ser apontadas. Uma delas é o caráter impermanente de quaisquer formas de financiamento da iniciativa, convidando a gestão do projeto a pensar, com frequência, na diversificação das fontes. Tanto por conta das metamorfoses que podem vir a acontecer nas atividades, como no risco de se contar com um núcleo muito rígido de conquista de recursos. Sugere-se, pois, a observação de matizes diversas e complementares, que dialoguem com públicos diferentes, desde fundações internacionais e seus editais mais expressivos até pessoas físicas e suas doações de pequeno porte. Outra intersecção é a relevância de se buscar continuamente enriquecer a rede de contatos do projeto, compartilhando as suas atividades e possibilidades de parcerias em encontros setoriais, espaços acadêmicos, imprensa, redes sociais, grupos de trabalho, empresas que orbitam a causa e demonstram vontade de dialogar, entre outros espaços de fortalecimento de branding (processo de ampliação da relevância da “marca” do projeto, representando aqui o processo de fortalecimento, em si, da notoriedade da iniciativa) e network (ampliação do grupo de pessoas e organizações com as quais o projeto dialoga)”

Felipe Mello

Foto: Como Anda

Na oficina, foram destacadas algumas possibilidades para captação de recursos:

Editais Nacionais e Internacionais

Há uma diversidade enorme de fundações e outras entidades que lançam, recorrentemente, editais de convocação de projetos como, por exemplo, as plataformas Prosas e Capte-me, repositórios atualizados e ricos em alternativas de editais. Recomenda-se a observação da pertinência de aproximação do projeto ao edital, evitando-se mudanças radicais que possam vir a descaracterizar o projeto. A não ser que seja esse o objetivo, ou seja, a mudança de rumos. A ideia, em geral, é buscar convocatórias que dialoguem com a visão, valores e objetivos do projeto, gerando um alinhamento sinérgico que, inclusive, tornará o processo de conquista do recurso mais possível.

Leis de Incentivo (Municipais, Estaduais e Federais)

Há diversas cartilhas que apresentam as leis de incentivo relacionados à cultura, esporte, assistência social, saúde e outras. Para mais informações acesse a Cartilha sobre uso de incentivos fiscais.

Financiamento Coletivo (Crowdfunding)

Esta modalidade vem ganhando relevância nos últimos anos e se mostra um caminho interessante especialmente para projetos de porte pequeno e médio, com começo, meio e fim claros e mensuráveis. Existem muitas plataformas que auxiliam o projeto a realizar esse trâmite, sendo que a maioria cobra uma taxa sobre o valor captado. Algumas são isentas de taxa para projetos sociais. Outra consideração sobre essa forma de captação de recursos é a necessidade de dedicação à divulgação, sendo necessário bastante “barulho” junto à sua rede de contatos. Alguns exemplos de plataformas: Kickante; Catarse, Benfeitoria, Juntos, Vakinha, entre outras.

Doadores Pessoa Física (Regular)

Outra modalidade que ainda carece de fortalecimento e constância no Brasil é a doação regular de pessoas físicas, ou seja, indivíduos que decidem contribuir regularmente com contribuição financeira para o projeto. Cada vez mais julga-se este modelo interessante, especialmente como desafio de promover uma diversidade de fontes de recursos, além de trazer mais gente para perto do projeto, podendo-se, além da contribuição financeira, inaugurar relações de valor. Para levar adiante esse tipo de iniciativa, há a necessidade de muita transparência com relação à utilização dos recursos, assim como os resultados obtidos. Comunicação e transparência são fundamentais para estimular a doação contínua.

Recursos Oriundos do Poder Público

Em se tratando de recursos oriundos do poder público, há duas formas bastante utilizadas: a) emendas parlamentares e b) convênios. Apesar de se reconhecer que podem ser fontes importantes de financiamento, sugere-se cautela na aproximação e gestão da relação com as esferas governamentais, cercando-se de precauções para que o projeto não vire “palanque” e que a prestação de contas não se transforme em algo dramático. Recomenda-se o diálogo com quem já pratica esse tipo de captação de recursos, dada a sua peculiaridade.

Produtos e Eventos (Festas, Shows, Bazares e Outros)

Outra forma bastante corriqueira de se captar recursos é pela oferta de produtos (camisetas, bonés, canecas e tantas outros) e realização de eventos. Além de levantar recursos, essas fontes também promovem a divulgação da marca do projeto, assim como aproxima pessoas. A precaução é para que o planejamento financeiro seja feito de forma precisa, para que não se corra um risco demasiado grande de prejuízo com o produto ou evento.

Prestação de serviços — Empresas e Pessoas Físicas

Acredita-se na possibilidade e relevância do diálogo e ofertas de serviços para empresas e pessoas físicas. Como exemplo, temos a realização de palestras para empresas e oficinas para pessoas físicas. Também vale lembrar o valor dessas atividades como promotoras das iniciativas, valores e objetivos do projeto. Para tornar real essa possibilidade, inicialmente se recomenda a identificação de atividades que podem ser oferecidas pelo projeto aos públicos citados. Algo como a preparação do portfólio, ou ainda, do cardápio de atividades, com previsão de custos e definição de conteúdo, formato etc. Então, faz-se necessário criar um kit mínimo de divulgação (digital e físico) e, a partir daí, passar a divulgar de forma recorrente junto aos públicos de interesse. A recorrência obstinada pode gerar retorno ao longo do tempo. Ressalta-se: recorrência obstinada. Talvez não seja no primeiro, nem terceiro e nem décimo contato que aconteça uma aproximação com um potencial “cliente”. Mas, com a recorrência, podem surgir oportunidades reais.

Parcerias de Serviços

Vale muito levar em consideração a possibilidade de parceria com agências de publicidade, assessorias de imprensa, escritórios de advocacia, gráficas entre outras empresas e organizações que possam oferecer serviços (e/ou produtos) importantes para o projeto/ organização. Ou seja, se o fortalecimento da marca do projeto é fundamental e o projeto não dispõe de muito recurso para contar com o suporte de especialistas, por que não buscar alguma empresa que se disponha a colaborar com a causa por meio da prestação de serviços? Novamente, talvez não seja na primeira e nem na quinta, mas a recorrência obstinada pode oferecer caminhos possíveis de parceria.

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